Resumo II Primeiras Estórias – João Guimarães Rosa

Resumo do Livro Primeiras Estórias de João Guimarães Rosa.

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Resumo II Primeiras Estórias – João Guimarães Rosa
Primeiras Estórias

Primeiras Estórias – João Guimarães Rosa   

   I – As margens da alegria: Um Menino descobre a vida, em ciclos alternados de alegria (viagem de avião, deslumbramento pela flora e fauna) e tristeza (morte do peru e derrubada de uma árvore).

   II – Famigerado: Damázio Siqueira, homem simples, atormenta-se com um problema vocabular: ouviu a palavra "famigerado" de um moço do gover-no e vai procurar o farmacêutico, pessoa letrada do lugar, para saber se tal termo era um insulto contra ele, jagunço.

   III – Sorôco, sua mãe, sua filha": Um trem aguarda a chegada da mãe e da filha de Sorôco, para conduzi-las ao manicômio de Barbacena. Durante o trajeto até a estação, levadas por Sorôco, elas começam surpreendentemente a cantar. Quando o trem parte, Sorôco volta para casa cantando a mesma canção, acompanhado pelos amigos da cidadezinha que, solidariamente, passam a cantar junto.

   IV – A menina de lá: Nhinhinha possuía dotes paranormais: seus desejos, por mais estranhos que fossem, sempre se realizavam. Isolados na roga, seus parentes guardam em segredo o fenômeno, para dele tirar proveito. As reticentes falas da menina tinham caráter de premonição: por exemplo, o pai reclamara da impiedosa seca. Nhinhinha "quis" um arco-íris, que se fez no céu, depois de alentadora chuva. Quando ela pede um caixãozinho cor-de-rosa com enfeites brilhantes, ninguém percebe que o que ela queria era morrer...

   V – Os irmãos Dagobé: O valentão Damastor Dagobé, depois de muito ridicularizar Liojorge, e morto por ele. No arraial, todos dão como certa a vingança dos outros Dagobé: Doricão, Dismundo e Derval. A expectativa da revanche cresce quando Liojorge comunica a intenção de participar do enter-ro de Damastor. Para surpresa de todos, os irmãos não só concordam, como justificam a atitude de Liojorge, dizendo que Damastor teve o fim que merecia.

   VI – A terceira margem do rio: Um homem aban-dona família e sociedade, para viver à deriva numa canoa, no meio de um grande rio. Com o tempo, todos, menos o filho primogênito, desistem de apelar para o seu retorno e se mudam do lugar. O filho, por vinculo de amor, esforça-se para compreender o gesto paterno; por isso, ali permaneceu por muitos anos. Já de cabelos brancos e tomado por intensa culpa, ele decide substituir o pai na canoa e comuni-ca-1he sua decisão. Quando o pai faz menção de se aproximar, o filho se apavora e foge, para viver o resto de seus dias ruminando o "falimento" e a covardia.

   VII – Pirlimpsiquice: Um grupo de colegiais ensaia um drama para apresentá-lo na festa do colégio. No dia da apresentação, há um imprevisto e um dos atores se vê obrigado a faltar. Como não havia mais possibilidade de se adiar a apresentação, os adolescentes improvisam uma comédia, que e entusiasticamente bem recebida pela platéia.

   VIII – Nenhum, nenhuma: Uma criança, não se sabe se em sonho ou realidade, passa férias numa fazenda, em  companhia de um casal de noivos, de um homem triste e de uma velha velhíssima, de quem a noiva cuidava. O casal interrompe o noivado, e o Menino, que conhecera o Amor observando-os, volta para a casa paterna. Lá chegando,

explode sua fúria diante dos pais, ao notar que eles se suportavam, pois haviam transformado seu casamento num desastre confortável.

   IX – Fatalidade: Zé Centeralfe procura o delegado de uma cidadezinha, queixando-se de que Herculinão Socó vivia tentando seduzir-lhe a esposa. A situação tornara-se tão insuportável que o casal mudara de arraial. Não adiantou: o Herculinão foi atrás. O delegado, misto de filósofo,

justiceiro e poeta, depois de ouvir pacientemente a queixa, procura o conquistador e, sem a mínima hesitação, mata-o. Justifica o fato como necessário, em nome da paz e do bem-estar do universo.

   X – Seqüência: Uma vaca fugitiva retorna a sua fazenda de origem. Decidido a resgatá-la, um vaqueiro persegue-a com incomum denodo. Ao chegar à fazenda para onde a vaca retornara, o vaqueiro descobre que havia outro motivo para sua determinação: a filha do fazendeiro, com quem o rapaz se casa.

   XI – O espelho: Um sujeito se coloca diante de um espelho, procurando reeducar seu olhar, apagando as imagens do seu rosto externo. A progressão desses exercícios lhe permitiu, daí a algum tempo, conhecer sua fisionomia mais pura, a que revela a imagem de sua essência. Linguagem próxima da do ensaio, pelo caráter filosófico do enredo.

   XII – Nada e a nossa condição: O fazendeiro Tio Man'Antônio, com a morte da esposa e o casamento das filhas, sente-se envelhecido e solitário. Decide vender o gado, distribuindo o dinheiro entre filhas e genros. A seguir, divide sua fazenda em lotes e os distribui entre os empregados, estipulando em testamento uma condição que só deveria ser revelada quando morresse. Quando o fato ocorre, os empregados colocam seu corpo na mesa da sala da casa-grande e incendeiam a casa: a insólita cerimônia de cremação era seu último desejo.

   XIII – O cavalo que bebia cerveja: Giovânio era um velho italiano de hábitos excêntricos: comia caramujo e dava cerveja para cavalo. Isso o torna alvo da atenção do delegado e de funcionários do Consulado, que convocam o empregado da chácara de "seo Giovânio", Reivalino, para um interrogatório. Notando que o empregado ficava cada vez mais ressabiado e curioso, o italiano resol-ve então abrir sua casa para Reivalino e para o dele-gado: dentro havia um cavalo branco empalhado. Passado um tempo, outra surpresa: Giovânio leva Reivalino até a sala, onde o corpo de seu irmão Jo-sepe, desfigurado pela guerra, jazia no chão.

Reivalino é incumbido de enterrá-lo, conforme a tradição cristã. Com isso, afeiçoa-se cada vez mais ao patrão, a ponto de ser nomeado seu herdeiro quando o italiano morre.

   XIV – Um moço muito branco: Os habitantes de Serro Frio, numa noite de novembro de 1872, tem a impressão de que um disco voador atravessou o espaço, depois de um terremoto. Após esses eventos, apareceu na fazenda de Hilário Cordeiro um moço muito branco, portando roupas maltrapilhas. Com seu ar angelical, impõe-se como um ser superior, capaz de prodígios: os negócios de Hilário Cordeiro, o fazendeiro que o acolheu, tem uma guinada es-pantosamente positiva. Depois de fatos igualmente miraculosos, o moço desaparece do mesmo modo que chegara.

   XV – Luas-de-mel: Joaquim Norberto e Sa-Maria Andreza recebem em sua fazenda um casal fugitivo, versão sertaneja de Romeu e Julieta. Certos de que os capangas do pai da moça viria resgatá-la, todos se preparam para um enfrentamento: a casa da fazenda transforma-se num castelo fortificado. E nesse clima de tensão que se celebra o casamento dos jovens, a que se segue a lua-de-mel, que acontece em dose dupla: dos noivos e do velho casal de anfitriões, cujo amor foi reavivado com o fato. Na manhã seguinte, a expectativa se esvazia com a chegada do irmão da donzela, que propõe solução satisfatória para o caso.

   XVI – Partida do audaz navegante: Quatro crian-ças, três irmãs e um primo, brincam dentro de casa, aguardando o término da chuva. A caçula, Brejeiri-nha, brinca com o que lhe dava mais prazer: as pala-vras. Inventa uma estória do tipo "Simbad, o maru-jo", que ganha novos elementos quando todos vão para o quintal, brincar a beira de um riacho. Libe-rando sua fantasia, Brejeirinha transforma um ex-cremento de gado no "audaz navegante", colocando-o para navegar riacho abaixo.

   XVII – A benfazeja: Mula-Marmela era mulher de Mumbungo, sujeito perverso que se excitava com o sangue de suas vítimas. Esse vampiro tinha um filho, Retrupé, cujo prazer só diferia do pai quanto à faixa etária das vítimas: preferia as mais frescas. Apesar de amar seu homem e ser correspondida, Mula-Marmela não hesitou em matá-lo e depois cegar Retrupé, de quem se torna guia. Passado algum tempo, resolveu assassiná-lo: percebera que esta seria a única maneira de refrear o instinto de lobiso-mem do rapaz.

   XVIII – Darandina: Um sujeito bem vestido rouba uma caneta, é surpreendido e, para escapar dos que o perseguiam, escala uma palmeira. Uma multidão acompanha atentamente os esforços das autoridades que procuram convencer o rapaz a descer. Resistindo, ele diz frases desconexas e tira toda a roupa, revelando notável equilíbrio físico.

A sessão de nudismo leva um médico a nova tentativa de diálogo. Ao se aproximar, o médico percebe que o sujeito voltara à normalidade e que, envergonhado, pedia socorro. A multidão, sentindo-se ludibriada, não aceita esta repentina sanidade e se dispõe a linchá-lo. Sentindo o risco, o sujeito berra um grito de louvor a liberdade, motivo bastante para a multidão ovacioná-lo e carregá-lo nos ombros.

   XIX – Substância: O fazendeiro Sionésio apaixona-se por sua empregada Maria Exita, que fora abandonada pela família e criada pela peneireira Nhatiaga. Na fazenda, o ofício de Maria Exita era o de quebrar polvilho, trabalho duro mas que a moça realizava com prazer e competência. Embora preocupado com a ascendência da moça, Sionésio sente que a paixão é maior que o preconceito e pede-a em casamento.

   XX – Tarantão, meu patrão: O fazendeiro João-de Barros-Dinis-Robertes tem uma surpreendente explosão de vitalidade em sua velhice caduca. Como se fora um Quixote, determina-se a matar seu médico: o Magrinho, sobrinho-neto do fazendeiro. Ao longo da viagem rumo à cidade, recruta um bando de desocupados, ciganos e jagunços, que acatam sua liderança, pelo carisma natural do velho. Chegando à "frente de batalha", Tarantão percebe que era dia de festa: uma das filhas de Magrinho fazia aniversário. O susto inicial, provocado pela invasão do "exército", transforma-se em alívio quando o velho discursa, dizendo de seu apreço pela família e pelos novos amigos, colecionados ao longo da última cavalgada.

   XXI – Os cimos: O Menino da primeira estória revela agora a face do sofrimento, causado pela doença da Mãe, fato que apressa sua viagem de volta à casa paterna. Os últimos dias de férias são de preocupação. O Menino só relaxava quando via, todas as manhãs e sempre a mesma hora, um tucano se aproximar da casa dos tios, onde se hospedava. Num processo de sublimação, desencadeado pela Beleza da ave, o Menino ganha energia para resistir e transferir à Mãe uma carga de fluidos mentais positivos, que lhe permitam superar a doença. Quando o Tio o procura para comunicar a melhora da Mãe, o Menino experimenta momentos de êxtase, pois só ele sabia o motivo da cura.

FOCO NARRATIVO

As indicações feitas a seguir são pontuadas com os algarismos que indicam a ordem de pubicação de cada estória no livro. Assim, dez delas têm o foco relato centrado na terceira pessoa:

I-"As margens da alegria"; II-"Famigerado";III-"Sorôco, sua mãe, sua filha"; IV-"A menina de lá"; V-"Os irmãos Dagobé"; VIII-"Nenhum, nenhuma"; X-"Seqüência"; XIV-"Um moço muito branco"; XIX-"Substância" e XXI-"Os cismos".

As onze estórias restantes são relatadas em primeira pessoa:

VI-"A terceira margem do rio"; VII-"Pirlimpsiquice"; IX-"Fatalidade"; XI-"O espelho"; XII-"Nada e a nossa condição"; XIII-"O cavalo que bebia cerveja"; XV-"Luas de mel"; XVI-"Partida do audaz navegante"; XVII-"A benfazeja"; XVIII-"Darandina" e XX-"Tarantão, meu patrão". Dessas onze estórias, apenas duas apresentam o narrador como protagonista: "O espelho" e "Pirlimpsiquice"; nas outras, o relato é feito por um espectador privilegiado, que presencia a ação e registra suas impressões a respeito do que assiste. O narrador pode ser também um personagem secundário da estória, com laços de parentesco ou e amizade com o protagonista.

Quanto ao emprego dos tempos verbais, nota-se que, na maior parte das estórias, o relato se faz através de uma mistura do pretérito perfeito com o pretérito imperfeito do indicativo.

ESPAÇO

A maioria das estórias se passa em ambiente rural não especificado, em sítios e fazendas; algumas têm como cenário pequenos lugarejos, arraiais ou vilas. Os ambientes são apresentados com poucos mas precisos toques: moldura de altos morros, vastos horizontes, grandes rios, pastos extensos, escassas lavouras. Duas estórias, no entanto - "O espelho" e "Darandina" -, transcorrem em cidades, pressupostas até como grandes centros urbanos, pelo fato de mencionarem a existência de secretarias de governo, hospício, corpo de bombeiros, jornalistas, parques de diversões, prédios de repartições públicas e outros serviços tipicamente urbanos.

PERSONAGENS

Embora variem muito quanto à faixa etária e experiência de vida, as personagens se ligam por um aspecto comum: suas reações psicossociais extrapolam o limite da normalidade. São crianças e adolescentes superdotados, santos, bandidos, gurus sertanejos, vampiros e, principalmente, loucos: sete estórias apresentam personagens com este traço.

1º conto:

menino: em estado de graça por descobrir a vida.

2º conto:

Damásio das Siqueiras: matador cruel.

3º conto:

Sorôco: viúvo que coloca a mãe e a filha, loucas, no hospício.

4º conto:

Nhinhinha: menina dotada de poderes sobrenaturais.

5º conto:

Liojorge: homem bom Damastor Dagobé: homem cruel e malfeitor

Doricão: irmão de Dagobé

Dismundo: irmão de Dagobé

Derval: irmão de Dagobé

6º conto:

protagonista: navegante da canoa narrador: filho de protagonista

7º conto:

Dr. Perdigão: professor de um grupo de adolescentes narrador: rapaz sem talento para o teatro. Ponto na peça

Zé Boné: rapaz espontâneo; revela-se ator.

8º conto:

um menino: arquétipo

um moço: enamorado da moça

uma moça: enamorada do moço

uma velha: simbolizando a vida

pai da moça: homem doente

pais do moço.

9º conto:

Zé Centaralfe: homem humilde

Esposa de Centaralfe

Herculinão: valentão que assedia a esposa de Centaralfe

Meu amigo: delegado instruído

10º conto:

rapaz: persegue a vaca fugitiva das terras de seu pai

moça: filha do Major Quitério.

11º conto:

narrador: protagonista; se vê refletido em espelhos

12º conto:

Tio M'Antônio: protagonista; estranho, calado filhas do Tio M'Antônio.

Tia Liduína: falecida esposa de Tio M' Antônio.

13º conto:

Reivalino Belarmino: empregado de Giovânio; narrador

Giovânio: italiano não afeito a hábitos de higiene, ex-combatente de guerra e fazendeiro. Seo Priscilo: subdelegado.

14º conto:

um moço muito branco: rapaz desmemoriado, com poderes

Duarte Dias: homem grosseiro

Hilário Cordeiro: homem bom e piedoso

José Kalende: escravo

15º conto:

Joaquim Norberto e esposa: velho casal; anfitriões

jovem casal: hóspede de Joaquim Norberto.

Seo Seotaziano: compadre de Joaquim Norberto

17º conto:

narrador: homem indignado com o comportamento da população

Mula Marmelo: mulher feia, suja e esfarrapada, benfeitora do povoado - "A benfazeja"

Retrupé: cego guiado por Mula Marmelo

Mumbambo: marido de Mula Marmelo. Homem cruel, assassinado pela esposa

18º conto:

narrador: médico-residente do hospício

louco: homem distinto que entra em crise

Adalgiso: homem excessivamente correto.

19º conto:

Maria Exita: moça bonita, trabalhadora e pura

Sionésio: homem bom e trabalhador, apaixonado por Maria Exita

Nathiaga: mulher boa, empregada na fazenda de Sionésio

16º conto:

Pela, Ciganinha, Brejeirinha: irmãs

Zito: primo

20º conto:

vagalume: narrador

João-de-Barros: patrão de Vagalume

Magrinho: médico; sobrinho de João-de-Barros

21º conto:

menino: o mesmo do primeiro conto

tio do menino: o mesmo do primeiro conto.