Resumo Livro Sobre o Nada - Manoel de Barros

Resumo Livro sobre o nada de Manoel de Barros.

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Resumo Livro Sobre o Nada - Manoel de Barros
Livro Sobre o Nada

Biografia

A nova poética nacional tem presenciado desde Drumond, autores cada dia mais especializados em novos experimentalismos poéticos, procurando no campo expressivo criar uma identidade própria.
O caso do mato-grossense Manoel de Barros revalida o anterior dito_ dotado de uma capacidade visual e criativa comparável a um João Cabral de Melo Neto em "O cão sem plumas", retrata através de imagens intangíveis o seu meio que é o pantanal.
Veja o que nos diz esta semente, flor e fruto do Pantanal mato-grossense em sua "autobiografia":
"Não sou biografável. Ou, talvez seja.
Em três linhas.
1. Nasci na beira do rio Cuiabá.
2. Passei a vida fazendo coisas inúteis.
3. Aguardo um recolhimento de conchas. ( E que seja sem dor, em algum banco de praça, espantando da cara as moscas mais brilhantes.)"
Embora tenha publicado seu primeiro livro em 1937, o reconhecimento e a cosagração vieram apenas ao longo das décadas de 80 e 90. Desssa forma, ao completar oitenta anos, Manoel de Barros tornou-se o maior candidato a todos os prêmios literários.
Enredo poético
Inútil, nada, coisa, bichos. Essas são algumas das palavras-chave de uma obra que tenta reconstruir o mundo. Alguns poetas passam, em suas obras, uma determinada visão de mundo; outros não se contentam com isso e vão além: tentam reconstruir o mundo. Manoel de Barros é um deles. Por isso mesmo, como afirma o editor Ênio Silveira, "guiados por ele, vamos abrindo horizontes de uma insuspeitada nova ordem natural, onde as verdades essenciais, escondidas sob a ostensiva banalidade do óbvio e do cotidiano" vão se revelando em imagens surrealistas descritas com absoluta concisão.
No texto que abre o Livro sobre nada, o poeta afirma que "o nada de meu livro é nada mesmo. É coisa nenhuma por escrito: um alarme para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para pedras, o parafuso de veludo, etc.
O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo. Tudo que use abandono por dentro e por fora."
Carlos Drummond de Andrade, em uma fase de sua produção "coisificou" o mundo industrial em plena Guerra Fria; Manoel de Barros faz exercícios poéticos no sentido de "descoisificar"o mundo, buscando uma nova forma de organizá-lo, que respeite a leitura daqueles que só têm "entidade coisal". Transcreveremos, a seguir , os três primeiros poemas do Livro sobre nada.
Observe a força expressiva dos prefixos que indicam ação contrária ( tentativa de mudar a ordem das coisas?) e a grande antítese formada por aqueles que só têm "entidade coisal"X o "senhor doutor".
I
"...As coisas tinham para nós uma desutilidade poética.
Nos fundos do quintal era riquíssimo o nosso dessaber.
A gente inventou um truque para fabricar brinquedos com palavras..."
II
o pai morava no fim de um lugar.
Aqui é lacuna de gente _ ele falou:
Só quase que tem bicho andorinha e árvore.
Quem aperta o botão do amanhecer é o arãquã.
Um dia apareceu por lá um doutro formado: cheio de suspensórios e ademanes.
Na beira dos brejos gaviões-caranguejeiros comiam caranguejos.
E era mesma distância entre as rãs e a relva.
A gente brincava com terra.
O doutor apareceu. Disse: Precisam de tomar anquilostomina.
Perto de nós sempre havia uma espera de rolinhas.
O doutor espantou as rolinhas.
Observe que o poeta assume a postura de uma criança, o olhar intangível do infante percebe o mundo muito grandiosamente_ quando surge o doutor formado que por ter sido educado e se tornado adulto perdeu a percepção do mundo real ( sensacional ). Tanto isto é claro quando as andorinhas são espantadas por ele.
Extremamente humanista e por que não dizer, ecológica é a visão do autor sobre o mundo que o cerceia.

Aspectos Relevantes

A UFOP 2000 vem através do seu vestibular difundir a leitura do gênero poético com um autor inédito para os vestibulandos_ a linguagem hermética e simplória dos textos serão certamente um desafio para o estudante tão pouco afeito à leitura de poesia. Indubitavelmente o livro mais difícil neste vestibular! Contudo o mais belo em conteúdo.
As imagens que muitas vezes parecem surrealistas e dadaístas na verdade não o são, pois estas vanguardas estão ligadas ao mundo industrial e o assunto da obra é a filosofia, a metafísica.
Se pudéssemos fazer um paralelo, poderíamos comparar o presente livro às poesias do heterônimo Alberto Caeiro_ criação do português Fernando Pessoa.
O Sensacionismo da obra de Caeiro nos lembra a obra de Manuel, o mundo só é possível existido quando estamos imersos em nossas sensações.
A obra é contemporânea, de tal forma que a prova da UFOP versará tão somente em questões de interpretação de texto. Leia os poemas e acostume-se com a linguagem.
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Questões do Vestibular UFOP99: (a alternativa correta está sublinhada)
55 'Coisa nenhuma por escrito, é como Manoel de Barros define seu Livro sobre nada. Acerca dessa obra, é incorreto afirmar que:
(A) O poeta oferece ao leitor um livro no qual há uma explícita tentativa de construir poemas "pelo avesso" de tudo o que se convencionou chamar de linguagem poética.
(B) Há uma deliberada intenção de surpreender pelo não dito, não visto, não sabido.
(C) Através de imagens inusitadas, tem-se uma poesia dissonante, na qual se questionam tanto as formas consagradas como os conceitos racionalistas que sustentaram boa parte da poética ocidental.
(D) Livro sobre nada apresenta-se em perfeita conformidade com os padrões vigentes no Modernismo de 22, especialmente no que se refere ao aspecto nacionalista.
(E) O aparecimento do "idioleto manoelés arcaico" é marca das mais visíveis, não sé pelos neo­logismos do poeta como ainda pelas combinações surpreendentes que, muitas vezes, invertem os significados, gerando sentidos novos e 'desúteis.
Com relação a Livro sobre nada, assinale a afirmativa incorreta.
(A) A obra promove uma reflexão das mais interessantes acerca dos paradigmas da linguagem poética.
(B) Trata-se de uma obra regionalista, uma vez que foi escrita por um poeta do Pantanal.
(C) De certa forma, há uma divinização do ofício do poeta, por sua capacidade de abandonar os saberes prontos e investir tudo na possibilidade de criação.
(D) Existe uma forte tendência telúrica, porquanto homem e paisagem praticamente se confun­dem na elaboração imagética.
(E) A estrutura em justaposição, de fato, favorece aquilo que Manoel de Barros chama de "rimar por dentro".
Questões do Vestibular UFOP99: (questão aberta)
Acho que todo poeta tem um menino nele que fantasia com palavras. O menino é irresponsável e só gosta de coisas gratuitas. Até hoje eu tenho vergonha de não ser um ente sério. Não gosto de perder tempo com trabalho. Só gosto de aproveitar o meu tempo com nada. (Barros, Manoel de. ln: RICCIARDI, G. Auto-retratos. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p.102)
A partir da leitura de Livro sobre nada (1996), de Manoel de Barros, elabore uma reflexão que dialogue com esse depoimento, quanto à relação existente entre palavra, criança, trabalho, seriedade e gratuidade.