Resumo O Auto de São Lourenço - Padre Anchieta

Resumo do Livro O Auto de São Lourenço de Padre Anchieta.

 8818
Resumo O Auto de São Lourenço - Padre Anchieta
O Auto de São Lourenço

Biografia de José de Anchieta

José de Anchieta nasceu em 1534, em Tenerife, nas Ilhas Canárias, território espanhol. Em 1551 ingressou na Companhia de Jesus e, dois anos depois, chegou ao Brasil. em1554 participou da fundação de São Paulo.
Desenvolveu atividades pedagógicas e catequéticas. Faleceu em 09 de junho de 1957 em Reitiba (hoje Anchieta), no Espírito Santo.
Biografia de São Lourenço
A data de 10 de agosto, no calendário cristão celebra-se a santidade de São Lourenço, morto na fogueira e objeto do nosso estudo. (diácono e mártir [festa])
Nas Atas do martírio de são Lourenço lê-se que o mártir, antes de ser posto sobre a grelha aquecida por carvões ardentes, quis rezar por Roma. A cidade foi-lhe grata por este ato de amor dedicando-lhe nada menos e trinta e quatro igrejas, a primeira delas, segundo o costume no lugar do martírio. Até mesmo os padroeiros da cidade, São Pedro e São Paulo não tiveram tanta honra.
Como explicar, portanto, a incontestável popularidade deste mártir (em Roma até o século passado sua festa era de preceito) sem dar crédito às notícias fornecidas pela Paixão e pelos escritores do século IV?
A sua imagem, aureolada de lenda já nos escritores bem próximos deles (como Prudêncio), nos é familiar no gesto, fixados pelos afrescos do B. Angélico na capela vaticana do papa Nicolau V, de distribuir aos pobres aos pobres as coletas dos cristãos de Roma. Esta era de fato uma das funções de diácono, e Lourenço, feito diácono pelo papa Sisto II, era o arcediago da comunidade dos diáconos romanos. É compreensível por isso que no auge da perseguição de Valeriano, o próprio pontífice, preso e conduzido ao martírio, deu ao díacono o encargo de distribuir tudo o que tinha aos pobres.
Quando o imperador - se lê na Paixão - impôs a Lourenço de entregar-lhes os tesouros dos quais tinha ouvido falar, ele reuniu diante de Valeriano um grupo de indigentes exclamando: "Eis aqui os nossos tesouros, que nunca diminuem e podem ser encontrados em toda parte."
A esta aguda e sábia resposta fazem eco as últimas palavras do mártir, que colocado sobre um braseiro ardente e já vermelho como um tição de fogo, teria encontrado coragem de fazer uma piada: "Vira-me, dizia ao carrasco, que já estou bem assado deste lado." O heróico testemunho de fé prestado pelo mártir foi eficazmente relembrado pelo papa Dâmaso: "chicotes, algozes, as chamas, os tormentos, as correntes, nada puderam contra a fé de Lourenço."
O papa, que admirava as virtudes do mártir glorioso, edificou-lhe a segunda igreja, sob as ruínas do teatro de Pompeu, fazendo para ele a primeira exceção: nenhum mártir antes dele tinha tido igreja fora do lugar do martírio. O diácono Lourenço sofreu o martírio a 10 de agosto de 258 DC.

RESUMO
O auto (espécie de teatro medieval) de Anchieta está dividido em 05 partes a verificar:
a) 1° ATO: a peça inicia-se com o martírio de São Lourenço ( você já conhece a biografia)
b) 2° ATO: os demônios enfrentam os santos ( luta entre o bem e o mal)
c) 3° ATO: Os imperadores romanos que assassinaram São Lourenço são mortos por Aimbirê e Saravaia, que foram subjugados pelo Anjo
d) 4° ATO: o corpo de São Lourenço é levado à tumba
e) 5° ATO: a dança dos meninos-índios (doze), dotados de um discurso ameaçador e religioso que imita uma procissão.
Você observará que um auto medieval é, em verdade, uma peça teatral, a sua diferença verifica-se na temática maniqueísta (o bem e o mal); e a obra em análise tem como figurantes santos e demônios, tanto já fundamenta o anterior dito.
Este auto foi apresentado à um público eclético (índios, padres, espanhóis, e portugueses)_ isto explica a sua estrutura linguística, observe quantos são os idiomas utilizados em seus 1493 versos que perfazem o todo da obra;
_ 867 versos em tupi;
_595 versos em espanhol;
_01 verso em guarani;
_40 versos em português.
Observe a tabela abaixo e veja a simbologia dos personagens:
GUAIXARÁ
é a encarnação indígena do diabo

AIMBIRÊ E SARAVAIA
são os criados do diabo Guaixará

TATAURANA, URUBUE JAGUARUÇU
a própria natureza a serviço do mal

VALERIANO E DÉCIO
são os imperadores romanos responsáveis pelo flagelo de São Lourenço

SÃO SEBASTIÃO E SÃO LOURENÇO
os santos

VELHA, ANJO, TEMOR DE DEUS, AMOR DE DEUS, CATIVOS E ACOMPANHANTES
personagens alegóricos
• COMENTÁRIOS
O contexto histórico da obra é o da guerra religiosa entre o império ultramarino cristão e o império ultramarino protestante e observaremos claramente o ardil de Anchieta para subjugar o gentio ideologicamente através de um discurso maniqueísta e temeroso.
Observa-se que a peça amedronta o indígena a partir de sua própria realidade_ a morte de São Lourenço na fogueira, e a vingança divina sobre a figura dos imperadores que também morreram carbonizados assusta qualquer um_ especialmente o gentio primitivo.
A estória de São Lourenço foi manipulada ideologicamente por Anchieta_ em toda a obra o mal é entendido como protestantes_ a isto chamamos maniqueísmo ideológico.
Anchieta inspirou-se na obra humanista de Gil Vicente e de seu teatro alegórico para compôr personagens que simbolizam uma idéia pré-concebida. É o que verifica-se na tabela supra.
O ritual da antropofagia que tanto assombrava o espírito europeu também foi tematizado na obra. Para os colonizadores brancos, um dos aspectos da cultura indígena que mais assustava era o ritual antropofágico. O rito do canibalismo promovido pelos índios era algo entendido como primitivismo pelo olhar estrangeiro que, por sua vez, desconhecia que os gentios comiam carne humana e nisto acreditavam que estavam incorporando a sua força e a coragem do inimigo.