Resumo O Suicídio da autora Émile Durkheim

Resumo do Livro O Suicídio da autora Émile Durkheim.

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Resumo O Suicídio da autora Émile Durkheim
O Suicídio

Resumo do Livro O Suicídio de Émile Durkheim

Índice

Introdução

Suicídio

Factores interiores e exteriores ao individuo:

- Loucura

- Grupo social

- Moral

- Ordem social

Religião

Parecer de Durkheim e Weber

Condições Sociais e Posição Social

A família como factor moderador

Os três tipos de suicídio

Conclusão

Bibliografia

Introdução

Este trabalho, visa explicar o suicídio enquanto fenómeno social, intemporal e universal. Para isso se demonstrará que este acto individual pode ser analisado a partir do contexto colectivo, através da análise sociológica durkhiemiana.

Tentarei ainda demonstrar quais as causas de mau estar geral que se faziam sentir na época, e que revelavam assim uma ruptura clara de laços sociais, ruptura a qual Durkheim queria dar resposta para poder constatar quais eram os laços que uniam os indivíduos entre si.
Assim, abordarei ainda temas influentes como a religião, a ordem social, a família e a moral, a fim de poder depreender o que leva o indivíduo a cometer tal injúria sobre si próprio.

Terei também em conta os três tipos de suicídio, utilizados por Durkheim para uma melhor caracterização dos mesmos, falo assim do Suicídio Egoísta que se caracteriza por um estado de apatia e ausência de qualquer apego a vida, do Suicídio Altruísta ligado a energia e a paixão e, por fim, o Suicídio Anómico caracterizado por um estado de irritação e repulsa.

Farei também, uma breve referência ao homicídio e o que leva os indivíduos a sacrificarem-se a si próprios ou aos outros.

Por fim, será ainda realizado ao longo do trabalho, um pequeno confronto com a perspectiva weberiano acerca das seitas religiosas e do protestantismo ascético.

Suicídio

Para perceber o suicídio na perspectiva durkhiemiana teremos de nos abstrair de todas as ideias preconcebidas que por vezes absorvemos do senso comum. É imperativo referir que esta forma de acabar com a própria vida não é explicada apenas por factores interiores ao indivíduo (como a loucura), mas também, e principalmente segundo Durkheim, por factores exteriores ao indivíduo (a sociedade na qual se insere).

O suicídio é, antes de mais, um indicador do estado moral da sociedade, que embora seja sublime e subjectivo, mostra-nos que forças de acção individuais e colectivas actuam em sociedade e em que grupos predominam. O meio social determina, portanto, as características, os valores e normas sociais, que embora sejam comuns numa sociedade, ganham maior ou menor adesão em cada grupo social.

Só assim se explica o maior ou menor interesse do indivíduo pela vida, que numa etapa mais aguda pode ser uma das causas ocasionais do suicídio. Conquanto todos os ideais, crenças, hábitos e tendências comuns que constituem o meio social são independentes entre si, no entanto propendem para diferentes graus de coesão social e consequentemente para uma diferente tendência colectiva do suicídio.

Segundo Durkheim, só pode haver tipos diferentes de suicídios se as causas a que estão ligadas sejam diferentes, ou seja, para que cada uma tenha uma natureza própria, é necessário que tenha também, condições de existência que lhe seja específica. Em resumo, a nossa classificação, em vez de morfológica, será, logo à primeira vista, etiológica. Não se trata, aliás, de uma inferioridade, pois penetra-se muito mais na natureza de um fenómeno quando se conhece a causa do que quando se conhece unicamente as características, mesmo essenciais.”(Durkheim,pag.145).

No entender do autor não existe nenhuma relação constante entre a neurastenia e a taxa social dos suicídios, pois este acto que põe fim à vida apenas pode ser compreendido através de uma análise sociológica.

É a partir da constituição moral própria de cada sociedade que poderemos apurar os factos que levam os suicídios a terem taxas mais altas em diferentes épocas do ano, a variarem consoante o estado civil do indivíduo, da idade, sexo, etc.

Cada grupo social é provido de diferentes energias, que se primeiramente nos parecem apenas cingidas à personalidade individual, depois de uma segunda observação deparamo-nos com um seguimento do estado social em que actuam.

Vai ser, então, a constituição moral da sociedade que vai determinar o número de suicídios e qual a índole (egoísta, altruísta e anómica) que o influencia, conduzindo o individuo ou à melancolia langorosa, ou ao renunciamento activo ou ainda à lassidão exasperada, recorrendo aos termos de Durkheim.

Na sua obra, o autor contrariou ainda, as ciências clínicas ao dizer que não é a loucura, a depressão ou o desconforto económico que levam os indivíduos a acabarem com a sua vida, estes estados apenas são o cume do mal-estar social em que vivem.

Assim, enquanto a sociedade não se alterar o número de suicídios vai ser constante, isto é, a taxa de suicídios vai acompanhar a evolução da sociedade, uma vez que comparando o suicídio com os outros tipos de mortes, este vai ser estável durante um certo período de tempo.

Contudo não podemos dizer que o suicida é um herdeiro moral do número de suicídios precedentes, pois este não teve contacto com a mesma natureza que os seus antecessores, na medida em que as tendências colectivas possuem especificidades que lhes são próprias tanto num contexto temporal como social.

Esta natureza difere porque os indivíduos enquanto forças activas da sociedade, vão progredindo enquanto seres psíquicos e sociais, descobrindo novas formas de pensar e sentir, (…) posto de lado o individuo, o social não é nada.”, (Durkheim, pág.332).
Religião

A religião desempenha um papel primordial na descodificação de símbolos para a tomada de consciência da sociedade, pois enquanto elemento agregador de todas as naturezas individuais, a sociedade produz diversos estados mentais dentro das consciências colectivas.

Esta diversidade do social não é apenas única no campo da religião, onde encontramos diferentes tipos de indivíduos com vista ao mesmo fim, é também partilhada nas modas, na moral, isto é, em todas as formas de vida colectiva.

Numa perspectiva weberiana no que concerne às seitas religiosas, teria de existir uma uniformidade geral de princípios para delas os indivíduos fazerem parte, teriam de responder a um certo número de exigências, principalmente no campo moral e religioso e uma garantia ética no que respeita ao ascetismo protestante.

A sociedade necessita também de outros elementos para a sua subsistência, para além dos indivíduos. Entramos, portanto na materialização da sociedade, pois a vida social cristaliza-se nos em suportes materiais, e os factos sociais começam a agir sobre nós a partir do exterior.

A sociedade caminhará para a produção de uma consciência colectiva que dará precedência ao interesse comum, em detrimento do particular (os prescritores de novas tendências), Portanto, a corrente colectiva é quase exclusivamente exterior às consciências particulares (…), (Durkheim, pág.337).

Durkheim compara a consciência colectiva com Deus, dado que se o homem tenta imitar o seu criador, esta reprodução é feita de modo fraudulento e descurado, logo a consciência individual é uma imagem “pálida” da consciência colectiva.

Weber refuta que no século XIX nos EUA o capital estava entregue na sua maioria aos puritanos e não era concedido crédito aqueles que não detinham os princípios morais da religião. Os capitalistas sentiam-se desfraldados de conceder uma oportunidade de vida àqueles não eram crentes, “Porque razão há-se ele pagar-me se não acredita em nada?”, (Weber, pág.197).

Qualquer concepção de ideia moral terá de aliar o egoísmo, o altruísmo e a anomia, sendo que o peso de cada um destes elementos variará de sociedade para sociedade.

O indivíduo terá assim de se dotar de suficiente personalidade para poder renunciar ao peso preestabelecido destes três elementos até um novo momento de harmonia, onde se pressupõe que afaste qualquer pensamento suicida. Existem, assim, três factores que pressupõem que o indivíduo não irá sobrepor a intensidade de um destes elementos em detrimento de outro: primeiramente, a própria natureza geral dos indivíduos que compõem uma sociedade; por outro lado, a maneira como estes estão articulados, isto é, essência da organização social; e ainda os casos efémeros que deturpam o funcionamento da vida colectiva sem mudar a sua constituição anómica.

Assim, podemos afirmar que o número de suicídios só se irá alterar se as condições sociais variarem, se estas permanecerem constantes a sociedade naturalmente também não irá mudar.

.Depois disto, e apesar de todas as disparidades, cheguei a uma conclusão interessante entre os dois autores, embora sobre temas diferentes e abordados sobre uma óptica oposta.

Durkheim salienta que quanto maior o grau de coesão social menor será a tendência para o indivíduo por termo à própria vida. Weber diz-nos que quanto maior era a coesão nas comunidades da Nova Inglaterra, maior era o alargamento urbano e a densidade populacional, e a ligação entre os indivíduos protestantes era fortificada pela frequência de seitas e associações, o que leva a depreender que essa ligação reduzia o numero de suicídios.

Todavia, na sociedade francesa de Durkheim, onde a maioria dos indivíduos eram católicos e em que a ida à Igreja é apenas semanal, nas zonas urbanas é mais comum o suicídio do que nas zonas rurais, uma vez que a individualidade é mais acentuada.

Por fim, é também importante frisar que este pensamento que foi aqui desenvolvido, de certa forma tem vindo a destituir se pois, as religiões, começam a perder o seu poder de coacção social, nas sociedades modernas,” (…) já não são no mesmo grau em que o foram no passado escolas sw disciplina.” Raymond Aron, pag.334).

Condições sociais e posição social

No IV capítulo da obra de Durkheim, O Suicídio, o autor faz referência às condições sociais de cada indivíduo, se as condições sociais puderam ou não exortarem ao suicídio. O autor justifica com vários acontecimentos ocorridos em diferentes culturas.

Através destes acontecimentos o autor constatou que a posição social exerce alguma influência sobre o suicídio, pois, em sociedades menos institucionalizadas o número de suicídios é mais elevado.

Para Durkheim, as instituições ou corporações de que fala nesta obra ou em outras como a divisão do trabalho social, são conceitos já considerados um pouco retrógradas, mas que no fundo acabam por responder às  (…) exigências da sociedade actual (…) (Raymond Aron,pag.334), logo, e segundo o próprio autor, é necessário que existam para que o próprio individuo através dessas mesmas instituições, por exemplo um grupo profissional, tenha uma maior proximidade com a sociedade onde esta inserido. O único grupo social que pode favorecer a integração dos indivíduos na colectividade é pois a profissão ou (…) a corporação (Raymond Aron, pag.334).

Encontramos aqui uma semelhança entre as perspectivas do autor francês e do autor alemão, uma vez que este último chama a atenção para uma série de constrangimentos que podem surgir quando um individuo está numa determinada posição social, e não pode usufruir do poder que essa posição lhe confere, dando-nos até um exemplo prático, Conheci casos de suicídio devido à recusa de admissão num clube”, (Weber, pág.201).

Com isto o que queremos dizer é que quantas mais aptidões escolares, poder económico e social tem o indivíduo, maior é a tendência que o mesmo tem para o suicídio.

O indivíduo tem cada vez mais o carecimento de estar a altura das exigências da posição social que ocupa, o que faz com que o mesmo esteja sob grande pressão, e acabe assim de certa forma por perder o interesse pelos seus objectivos, levando-o desta forma ao suicídio.

A família como factor moderador

Os três tipos de suicídio

A família é também um assunto abordado por Durkheim, tendo a mesma, segundo o autor, uma função moderadora no que diz respeito ao suicídio. Para melhor compreender este ponto é necessário explicitar a questão das idades, ou seja, o maior número de suicídios ocorre entre os vinte e os trinta anos, segundo o autor, é neste período de tempo, que se possui uma menor força moral, pois esta entregue a si próprio, enquanto que no seio familiar o individuo esta sujeito a força benéfica que esta exerce sobre o mesmo.

No que concerne ao homicídio, um termo que o autor usa como comparação, a família não tem um poder de persuasão tão elevado como deveria ter, o que por vezes leva a que exista um maior número de homicídios dentro da mesma. Com isto poderia dizer que, não é o facto de se estar casado mas sim de se ser mais velho, logo nestes casos de “vida doméstica” pode se suscitar um número mais elevado de homicídios, pois a força moral exercida pela família sobre os membros que a compõem é bastante elevada, esta deveria afasta-los do homicídio, mas por vezes, se não na sua maioria é a causa para que o mesmo decorra.

Entre estes dois termos, suicídio e homicídio, existem segundo ao autor, alguns pontos comuns mas também contraditórios. Assim, para que exista uma melhor percepção e harmonização entre os mesmos o autor recorreu aos três tipos de suicídio.

O suicídio egoísta, é aquele que se encontra com uma maior frequência, este tipo de suicídio é (…) caracterizado por um estado de depressão e de apatia, fruto de um individualismo exagerado.” (Durkheim, pág.381).

Neste tipo de suicídio o indivíduo, deixa de ter uma ligação tão forte com a sociedade, pois a vida que o individuo gostaria de ter já não corresponde a realidade existente, este pensa ser superior a mesma, pois para ele o que a sociedade lhe oferece já não o satisfaz, fazendo assim com que o individuo viva “ (….) no meio do tédio e do aborrecimento (….) ” (Durkheim, pág.381).

O suicídio egoísta é, o estado em que o Eu individual se afirma desmesuradamente diante do Eu social, isto sucede pois tal acto é tolerado pelo Eu social, permitindo assim que a afirmação do Eu individual prevaleça, resultando assim, numa individualização desmedida.

No fundo isto acaba por ser uma contradição, pois o indivíduo deveria sentir-se realizado consigo mesmo, por se sentir superior, digamos assim, a sociedade a que pertence, mas em vez deste sentimento de auto realização acontece o oposto, ou seja,”(… )o vinculo que liga o homem à vida se distende, é porque o vínculo que o liga à sociedade também se distendeu, acabando assim por levar o individuo ao suicídio.

A situação torna se diferente quando falamos de homicídio, este, segundo o autor é um acto violento, o homicida não se sente a altura da sociedade onde habita tendo por isso a necessidade, de eliminar o indivíduo que este pensa estar acima dele.

No suicídio altruísta o suicídio e homicídio, como é mencionado pelo autor ” (…) podem perfeitamente caminhar lado a lado, porque dependem de condições que diferem por uma questão de grau (…) ” (Durkheim, pág.382) este tipo de suicídio é caracterizado por uma integração social desmedidamente forte, pois o individuo pode suicidar se por estar desinstitucionalizado da sociedade que o acolhe mas também pode faze-lo caso esteja demasiado integrado nela.

Este tipo de suicídio é característico, segundo o autor, das sociedades primitivas onde o individualismo é muito fraco, mas subsiste ainda nas sociedades modernas, como por exemplo na sociedade militar, onde a número de suicídios é mais elevado devido a pressão hierárquica que se impõe fortemente ao indivíduo.

Por fim, mas não menos importante, o suicídio anómico, ao qual o autor concede uma maior importância, corresponde no fundo a uma falta de regulação social opondo se assim ao suicídio altruísta que se caracteriza por uma regulação social excessiva como tínhamos visto anteriormente.

No suicídio anómico também existe a possibilidade de uma ligação entre suicídio e homicídio pois como diz o autor, ” (…) a anomia provoca um estado de desespero e de cansaço exasperado que pode (…) virar-se contra o próprio individuo ou contra outrem (…)” (Durkheim, pág.383) logo pode levar tanto ao suicídio como ao homicídio, o que difere entre eles é a “ (…) constituição mora l (…)” (Durkheim, pág.383) que cada individuo possui.

O suicídio anómico é o tipo de suicídio que ocorre com uma maior frequência nas sociedades modernas. Este esta estreitamente ligado a um grande desenvolvimento, principalmente na área industrial e comercial onde este tipo de suicídio ocorrer com uma maior frequência.

Durkheim considera ainda que, este tipo de suicídio é particularmente preocupante nas sociedades modernas, visto que esta estreitamente ligado à falta de controlo que existe nas sociedades e que estas exercem sobre o individuo.”Nestas sociedades, a existência social não é regulada pelo costume; os indivíduos estão em competição permanente uns com os outros; esperam muito da existência e exigem muito dela, e encontram-se perpetuamente rondados pelo sofrimento que nasce da desproporção entre as suas aspirações e as suas satisfações.”(Raymond Aron, pag.331)

Conclusão

A partir da análise tentei evidenciar a influência que a sociedade exerce sobre o indivíduo, e uma vez que esta se modifica o indivíduo terá de possuir os meios necessários para a poder acompanhar, isto é, situar-se individualmente dentro do colectivo, para não se abater num estado anómico. Durkheim levou esta perspectiva ao extremo desenvolvendo um estudo sociológico com base nas estatísticas francesas do suicídio, e chegando à conclusão que as forças maioritárias que levam o individuo a terminar com a própria vida são exteriores, isto é, o meio social em que este se encontra é que vai determinar o desfecho da sua vida.”As causas reais do suicídio são forças sociais que variam de sociedade para sociedade, de grupo para grupo, de religião para religião. Emanam do grupo e não dos indivíduos tomados um a um.” (Raymond Aron, pag.331).

O autor caracterizou três tipos diferentes de suicídio, anómico, egoísta e altruísta, e as razões pelas quais praticam um e não outro, baseando-se em características tão dispersas como o sexo, a religião, a família, a posição social, só para citar algumas. Elaborei, ainda, uma breve critica à margem do pensamento weberiano. Podendo, portanto, afirmar que é a sociedade que faz os indivíduos, fazendo-os à sua imagem e similitude.