Livro A Moreninha

Não é fácil escrever romances sem uma tradição literária que possa dar sustentação a uma linguagem ficcional, tema, enredo, formas, enfim, sem uma cultura literária. Quando Joaquim Manuel de Macedo, aos 23 anos, recém-formado em Medicina, decidiu, em 1844, publicar A Moreninha, as únicas tradições disponíveis no gênero, em língua portuguesa, eram os romances de Teixeira e Souza e as famosas novelas traduzidas do francês, publicadas a partir de 1815. Não era muito, em termo de literatura no Brasil. Talvez por isso, Macedinho, como era conhecido o autor, tenha sido parcimonioso em considerar seu livro um romance.

Mas era um romance, e com uma característica importantíssima: era um dos primeiros no gênero, um pioneiro, portanto. Claro que, como um intelectual, embora ainda jovem, tinha as influências benéficas da literatura francesa, sobretudo dos folhetins, uma invenção dos franceses que levou a literatura para as folhas dos jornais e permitiu um diálogo novo entre público e autor. Também havia, por outro lado, a tradição das musas morenas, como foram Marília de Dirceu, Iracema, Rita Baiana, Capitu, Gabriela, com sua inarredável simbologia telúrica. Essas morenas inauguraram a morenidade como interpretação da terra brasileira.

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