Resumo II Memórias Póstumas de Brás Cubas

Resumo do Livro Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis.

 415
Resumo II Memórias Póstumas de Brás Cubas
Memórias Póstumas de Brás Cubas

 Brás Cubas conta que faleceu em 1869, em sua chácara de Catumbi, com, aproximadamente, sessenta e quatro anos e ainda saudável. Vale notar que a imprecisão da idade não é gratuita. Mostra que o tempo cronológico não tem a menor importância no fluir da narrativa machadiana.

A causa mortis alegada foi uma pneumonia (poderia ser qualquer outra) no período em que trabalhava na invenção de um produto farmacêutico.

Criança mimada e travessa, acostumado a exercer a própria vontade, tem, na juventude, suas primeiras experiências amorosas com Marcela, uma espanhola, de conduta discutível, com quem gastava muito dinheiro: "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.".

Mandou-o o pai à Europa, para afastá-lo da espanhola e para que ingresse no curso superior. Diploma-se, lá, em Direito. Volta ao Rio de Janeiro na mesma época em que sua mãe falece.

Conhece Eugênia, jovem muito bonita que tinha, de nascença, pequeno defeito na perna que a fazia "mancar" um pouco. Não dura muito o romance.

O pai ambicioso que vê-lo bem casado e político; para tanto, aproxima-se do Conselheiro Dutra, o qual promete apoio a seus interesses políticos. No transcurso de tal relação, Brás Cubas apaixona-se por Virgília, filha do conselheiro. Excelente acontecimento para as pretensões do pai de Brás Cubas. Todavia, surge um imprevisto: Lobo Neves, com quem Virgília termina casando por interesse; na verdade, ela ama Brás Cubas. Como era de se esperar, Virgília e Brás Cubas tornam-se amantes.

Brás Cubas narra o encontro que teve com Quincas Borba, antigo colega da escola primária, que se tornara mendigo e no reencontro roubara-lhe o relógio... (Quincas Borba será personagem de outra obra machadiana.)

Os encontros dos amantes Brás Cubas e Virgília continuam e passam a provocar comentários; por isso, eles resolvem camuflar seu amor, vendo-se às escondidas, numa casa na Gamboa - "uma casinha só nossa" - em que, para manter as aparências, reside D. Plácida, ex-empregada de Virgília.

Lobo Neves, envolvido com as lides políticas não se dá conta da traição. Indivíduo supersticioso, recusa uma nomeação para "presidente de uma província": tal nomeação fora publicada num dia 13!

Mais tarde, Lobo Neves aceita nova nomeação e parte para o interior do país, levando Virgília, o amor de Brás Cubas.

A distância esfria o relacionamento adúltero. Brás Cubas elege-se deputado. Na atividade política reencontra Lobo Neves e, então, revê Virgília, que já não tem a beleza de outrora. Esvaziara-se a paixão em ambos.

Reaparece Quincas Borba e devolve-lhe o relógio roubado no primeiro encontro. Quincas enlouquece aos poucos. Já não era mendigo: recebera uma herança em Barbacena, tornara-se filósofo e inventara a teoria do Humanitismo; Brás Cubas começa a interessar-se pelo assunto.

Completamente ensandecido, falece Quincas Borba e, não muito depois, Brás Cubas, que, da Eternidade, passa a relatar as peripécias de sua existência terrena.

PRINCIPAIS PERSONAGENS E SUAS CARACTERÍSTICAS

Brás Cubas

Defunto-autor e narrador, Brás Cubas é o protagonista. De seu túmulo, fala encastelado numa superioridade irreverente, egoísta, presunçosa e irônica. Tem uma percepção pessimista da existência humana, por isso, anula os valores da vida terrena, ao mesmo tempo em que - peculiar na obra madura de Machado - desvenda o "mau-caratismo" da alma.

Brás Cubas é a antítese dos ideais românticos de "bom-mocismo". Sua vida é um desfilar de inconseqüências e insucessos em todos os aspectos. Ele traduz o anti-herói. Seu caráter não apenas contradiz o ideal romântico, mas também é arcabouço para a contestação machadiana ao Positivismo e ao Determinismo.

As demais personagens são (ou tornam-se) secundárias, a partir do trono em que o narcísico Brás Cubas se instala.

Marcela

É a primeira namorada, o primeiro amor, o da juventude. Trata-se de uma espanhola de vida censurável, com quem Brás Cubas gasta uma apreciável fortuna, vinda do pai - logicamente. Marcela é atacada pela varíola, adquirindo indeléveis marcas, prazerosamente descritas pelo narrador. Desfaz-se o namoro. 

Lobo Neves

É quem lhe rouba a nova namorada, ou melhor, a noiva, e com ela se casa. Neves é supersticioso: tem pavor, por exemplo, do número 13.

Cotrim

Casado com a irmã de Brás Cubas, é aproveitador e servil ao mesmo tempo; ao passo que o ex-colega de escola primária, Quincas Borba, torna-se infeliz, maltrapilho, ladrão (leva o relógio de Brás Cubas no primeiro encontro) e, à custa de uma herança deixada por um tio de Barbacena, enriquece. Torna-se o filósofo-pai do Humanitismo, mas ruma para uma loucura irrecuperável que o conduzirá à morte.

Nota: Bem ao estilo de sua época romântica, as personagens não lutam pela aquisição de seus bens. Em geral, sua prosperidade advém de uma herança.

Virgília

A primeira noiva de Brás Cubas que, no entanto, casa-se com Lobo Neves. Era filha do Conselheiro Dutra, de quem Brás Cubas se aproxima por interesses políticos. Tendo-o deixado por Lobo Neves, deixa transparecer seu caráter fraco e interesseiro (o casamento com Neves realizou-se por interesse; não por amor).

Entretanto, Brás Cubas não a perde totalmente; ela se torna sua amante.

VIDA E OBRA DE MACHADO DE ASSIS

O Gênio que veio do morro

Nascido no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, filho de mulato em uma sociedade ainda escravocrata, paupérrimo, sofrendo de gagueira e epilepsia, nada indicaria que Joaquim Maria Machado de Assis teria, ao morrer em 1908, um enterro de estadista, seguido por milhares de admiradores pelas ruas da cidade em que nasceu, viveu e morreu.  Autodidata, aos 15 começa a trabalhar em tipografias, onde conhece escritores importantes, como Manuel Antônio de Almeida. Em 1855 inicia sua carreira literária com a publicação de um poema na revista Marmota Fluminense. Consegue, logo depois, um emprego na Secretaria da Fazenda. Trabalha a vida toda na burocracia, na qual vai galgando posições até ser Ministro substituto. Mas a carreira burocrática é apenas uma forma de ganhar o sustento, ainda que humilde, que o possibilita a escrever. Contribui com diversos jornais e revistas e, com a publicação de seus livros de poesia, contos e romances, só vai ganhando em notoriedade e respeito. Em 1869, casa-se, enfrentando grave preconceito racial da família, com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais.

Em 1876, antes mesmo de publicar a parcela de sua obra mais significativa, já é considerado, na companhia de José de Alencar, um dos maiores escritores brasileiros. Em 1881 inicia a publicação dos seus romances realistas. Em 1896 é um dos principais responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras, do qual é eleito presidente vitalício. Em 1904 morre Carolina. Quatro anos depois, Machado de Assis, consagrado como o maior escritor brasileiro, é enterrado com pompa no Rio de Janeiro. O mulato paupérrimo do Morro do Livramento tornara-se um dos homens mais respeitados do país.

O poeta

Machado de Assis iniciou sua carreira literária como poeta. Seu livro de estréia foi Crisálidas (1864), que lhe conferiu imediata notoriedade. Embora sua poesia esteja muito aquém da prosa que o imortalizou, nunca deixou de escrever poemas. Em 1870 lança Falenas, em 1875, Americanas e, em 1901, as suas Poesias Completas, que ainda não incluem um dos seus mais famosos poemas, o belo soneto A Carolina, escrito após a morte da esposa, em 1904.

O cronista

Seguindo a linha dos textos de Ao Correr da Pena, de José de Alencar, Machado de Assis contribuiu durante toda a sua carreira com textos breves para jornais, em que comenta os mais variados assuntos da vida do Rio de Janeiro e do país. Esses textos leves, de temática cotidiana, podem ser considerados os precursores da crônica moderna, em que se haveriam de destacar, no século seguinte, escritores como Rubem Braga, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade. A produção do Machado cronista se inicia já em 1859 e se estende até 1904, com raras interrupções. Sua produção mais madura foi publicada na colunas do jornal Gazeta de Notícias, em que contribui de 1881 a 1904: Balas de Estalo (1883-1885), Bons Dias! (1888-1889) e principalmente em A Semana (1892-1897).

O crítico

Também para os jornais, Machado de Assis escreveu, durante toda a vida, textos críticos. Sua produção infindável envolve ensaios teóricos, como O passado, o presente e o futuro da nossa literatura (1858), O ideal do crítico (1865) e Notícia da atual literatura brasileira - instinto de nacionalidade (1873), diversas resenhas críticas importantes, como aquela ao livro O Primo Basílio, de Eça de Queirós (1878) e inúmeras críticas de teatro.

O contista

Muitos das centenas de contos que Machado de Assis escreveu ao longo da vida se perderam, com o desaparecimento dos números dos jornais em que foram publicados. Outros, apenas agora estão sendo republicados em livro. Sua versatilidade como contista é imensa.

Escreveu tanto para os jornais mais sentimentalóides quanto para publicações seríssimas. A qualidade dos contos varia de acordo com a publicação e o público leitor a que se destinavam. Entre as coletâneas de contos que publicou, destacam-se Papéis Avulsos (1882), com o grande conto, ou novela, O Alienista, Teoria do Medalhão e O Espelho, e Várias Histórias (1896) em que se encontram, entre outras obras-primas da concisão e do impacto narrativo, A Causa Secreta, A Cartomante e Um Homem Célebre.

A fase romântica

Entre 1872 e 1878, Machado de Assis começa a publicar romances. Ainda muito influenciado pelo amigo e mestre José de Alencar, publica, com regularidade britânica, um romance a cada dois anos. Em Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878), temos um Machado ainda romântico, mas antecipando alguns temas e procedimentos de suas obras-primas realistas e, principalmente, conquistando um público leitor que já receberia sua revolução realista com boa vontade.

As obras-primas realistas

A mais importante fase da carreira de Machado de Assis concentra-se na trilogia de romances realistas publicados no final do século. O primeiro deles foi Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).

Depois, seguiram-se: Quincas Borba (1891) onde narra, na terceira pessoa, as desventuras do ingênuo Rubião, herdeiro da fortuna e do cachorro da enlouquecida personagem Quincas Borba, que já aparecia, e morria, no livro anterior. Através dessa personagem, cômica no seu despreparo para as armadilhas da corte e trágica no seu destino, Machado ao mesmo tempo ironiza e demonstra as teorias darwinistas tão caras aos naturalistas. O ensandecido "Humanitismo" de Quincas Borba, herdeiro direto da "luta pela vida" de Darwin, é sintetizado na frase "Ao vencedor, as batatas!", e acaba por ser comprovado tragicamente pela ação espoliadora do casal Sofia / Palha sobre o provinciano protagonista.

Em Dom Casmurro (1899) apresenta algumas das personagens mais complexas da literatura universal. Narrado pelo velho Bento Santiago, apelidado Dom Casmurro, conta a história de seu relacionamento - namoro, casamento e afastamento - com Capitu, sua vizinha de infância.

O narrador se esforça por demonstrar o caráter ambíguo e dissimulado tanto de sua esposa quanto de seu melhor amigo, o hábil Escobar, para assim justificar sua convicção de ter sido por eles traído. Como prova da traição, apresenta a semelhança que enxerga em seu filho, Ezequiel, com o amigo, que supõe pai da criança. Mas o esforço é vão. Se consegue construir a imagem de personagens extremamente complexos, nada nos consegue provar, pois o seu próprio caráter é tão fraco, tão inseguro e titubeante, que o leitor passa a desconfiar de seus julgamentos. Assim, além de construir a eterna dúvida (Capitu traiu ou não Bentinho?), Machado de Assis apresenta o primeiro narrador não confiável da literatura brasileira.

Os últimos romances

Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), têm o mesmo narrador personagem, o conselheiro Aires, que pouco age e passa a maior parte da narrativa contemplando placidamente as aventuras amorosas e existenciais dos jovens ao seu redor. A descrição dos dias de perplexidade da população carioca com a proclamação da República, em Esaú e Jacó, é um dos pontos altos da narrativa machadiana.

A Academia Brasileira de Letras

Fundada em 1896, foi um dos mais acalentados sonhos de Machado de Assis no final da vida. Eleito seu primeiro presidente, Machado via na fundação da Academia, nos moldes da Academia Francesa, uma possibilidade de dignificar o trabalho do escritor, acabando com a imagem de malandro boêmio que viera do romantismo, e afirmando-o como um intelectual sério e conseqüente.