Resumo De Volta à Casa Verde - Moacyr Scliar

Resumo do Livro De Volta à Casa Verde de Moacyr Scliar.

 409
Resumo De Volta à Casa Verde - Moacyr Scliar
De Volta a Casa Verde

Através de O Mistério da Casa Verde, que tem a assinatura de Moacyr Scliar, a série Descobrindo os Clássicos, da editora Ática, oferece ao jovem leitor brasileiro a oportunidade de um primeiro contato com o célebre conto O Alienista, do genial Machado de Assis. 
O autor gaúcho, em linguagem adequada à juventude, mostra, em pleno final do século XX, um grupo de jovens à procura de um local para se divertir, na ainda pacata Itaguaí, a mesma cidade que foi palco do famoso conto machadiano.
 
Arturzinho, o líder, entende que deviam fazer seu clube exatamente na Casa Verde, aquela em que morreu Simão Bacamarte, estudando a própria loucura. A casa tinha fama de mal-assombrada não faltando “quem garantisse ter ouvido ali, à noite, gritos e gemidos”. 
Os jovens perfuram a parede e se defrontam com o alienista, em carne e osso. Começa o mistério. Quem seria aquele homem assustador, trajado à antiga, na sala igualmente antiga do “diretor”?

O narrador de O Mistério da Casa Verde, valendo-se de vocabulário e estruturas sintáticas captáveis facilmente pelo público-alvo, vai atraindo seu leitor para uma história que os mais antigos entendiam concluída e eternizada na pena de Machado de Assis. Privilegiando o discurso direto, a obra flagra os jovens falando um português simples,com leves marcas de oralidade, como nessa passagem em que se emprega o verbo ter em sentido existencial: “- (...) Tem uma multidão na frente da Casa Verde.“ 

Arturzinho, em contrapartida, chega a usar “virem”, futuro de subjuntivo de ver, e Lúcia, referindo-se ao pai, diz que Ana “cuidava dele, alimentava-o, vestia-o”. Trata-se de registros incomuns na fala dos jovens. Mas é sempre uma oportunidade para que os educadores se valham do texto literário em discussões sobre os usos da língua.
Léo, o intelectual da turma, dirige o grupo à professora Isaura, que resume a obra machadiana e a interpreta, muito habilmente, também como uma sátira política, haja vista a figura do revolucionário Porfírio, que, assumindo o governo de Itaguaí, procura uma conciliação com o poder científico representado por Bacamarte.

Coerente com a proposta editorial de descoberta dos clássicos, o personagem André, que nem gostava muito de leitura, fica interessado em se embrenhar no mundo machadiano. 
Assim, também os leitores da obra vamos querer conhecer mais a respeito de Simão Bacamarte, o bisavô daquele personagem misterioso, que assustou tanto nossos heróis juvenis. 
E, do possível confronto entre as obras, talvez aflore uma dúvida no jovem leitor: os personagens de O Alienista viveram em que século? A narrativa denuncia que a história dos “loucos” de Itaguaí se passou no século XVIII.

As referências ao rei D. João V e ao marquês de Pombal são provas incontestes disso. Martim Brito, por exemplo, um rapaz de vinte de cinco anos, que foi trancafiado na Casa Verde durante o terror, compôs certa feita uma ode à queda do marquês de Pombal, ministro português de 1750 a 1777. 
Na obra de Scliar, entretanto, refere-se a Simão como alguém do século XIX: “- Foi um choque, Arturzinho. Um choque. Nos guardados da família ele tinha arranjado aquela roupa do século passado, e estava lá, sentado numa cadeira velha, à luz de uma vela, naquele lugar imundo...”

O narrador de O Alienista, ancorado em antigas crônicas, não fixa datas da “epopéia” cientificista de Bacamarte, mas, como se disse, deixa valiosas pistas. Assim, Porfírio, no comando dos revoltosos, refere-se à Casa Verde como “Bastilha da razão humana”, numa referência à Revolução Francesa de 1789. Porfírio assume, é deposto, chegam as tropas do vice-rei e se restabelece a ordem em Itaguaí. Uma torrente de loucos é então confinada na Casa Verde, não ficando muito bem delimitado o espaço de tempo em que isso ocorreu. Um dia a população se assombra com a soltura dos loucos e a mudança da teoria científica. Daí para frente, até a morte do alienista, o leitor atento vai perceber um intervalo de aproximadamente três anos. Poder-se-ia conjeturar que os fatos narrados por Machado de Assis cheguem mesmo ao início do século XIX, tendo em vista a referência aos vice-reis. Como se sabe, o último deles governou o Brasil em 1808. 

Mesmo assim considerando, o parentesco entre Simão e Jorge (o alienista de O Mistério da Casa Verde) parece próximo demais. Jorge, personagem do final do século XX,de um tempo em que os jovens já ouvem CD, seria bisneto de alguém nascido no final do século XVIII ou na primeira década do século XIX? 
Esse pequeno senão, salvo melhor juízo, compromete levemente a verossimilhança de O Mistério, mas não invalida, por certo, seu grande mérito de fomentar o diálogo com um clássico de nossas letras. E isso o autor o faz com brilhantismo, levando os jovens a se interessaram pelo inesgotável universo machadiano.